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“Caiam as rosas brancas!”: um manifesto à liberdade

Atualizado: há 2 dias

Foto: Divulgação/ Vitrine Filmes
Foto: Divulgação/ Vitrine Filmes

Caiam as rosas brancas!, de Albertina Carri, é um ode à liberdade. Um manifesto tão interessado no assunto que o torna, ao mesmo tempo, seu maior trunfo e sua pior qualidade.


O filme conta a história de Violeta, diretora de um filme pornô lésbico independente de grande sucesso, que agora faz um novo filme pornográfico mainstream. Entretanto, ela não se sente à vontade nas filmagens, encara um bloqueio e, junto de mais três amigas, viaja pela Argentina e para em São Paulo enquanto busca o que filmar. Dessa maneira, o filme torna-se um road movie que, assim como Violeta, também procura nas suas imagens algo a ser encontrado. Um filme que está sempre buscando sua própria liberdade, mesmo que isso fuja do próprio escopo pré-estabelecido.


Quer dizer, Carri e a protagonista, ambas estão em busca da imprevisibilidade das imagens e da força da natureza. Violeta filma as árvores quando seu grupo de amigas se perde na floresta; ela vai, aos poucos, largando de mão do digital quando a câmera morre e reencontra-se com o cinema ao deparar-se com uma Super 8 numa loja à beira da estrada. Carri passeia com suas personagens por diversos gêneros que, abraçando essa imprevisibilidade, consegue acenar para esse tom de liberdade que Violeta e o filme formalmente busca.


Do cinema erótico ao horror, do horror à comédia, da comédia ao documentário, Carri faz um passeio pelo cinema enquanto busca o seu próprio. Ela transforma essa viagem, ou seja, esse espaço físico que suas personagens precisam atravessar, na própria trajetória de um cinema interior. Interior, nesse caso, de Violeta. Não é um filme que beira ao introspectivo e nem flerta com um desenvolvimento de personagem profundo, mas flerta com as possibilidades das imagens e da montagem ao entregar diversos tons para a mesma história. Liberdade em sua trama, liberdade em sua forma.


Foto: Divulgação/ Vitrine Filmes
Foto: Divulgação/ Vitrine Filmes

E isso pode ser muito interessante visto por este ângulo, mas acontece que nessa ânsia por uma liberdade quase poética, muitas vezes o filme se perde em seu ritmo. O trajeto se estende mais do que deve, fazendo o filme dar voltas na sua própria temática, enquanto os motivos da viagem não são tão bons e os personagens bem rasos. Conseguimos diferenciá-los por algumas características, mas só. Não seria um problema se fosse um filme que abraçasse uma estética de cinema-poesia por completo, mas a questão é que passamos muito tempo com elas, e em diálogos entre elas, e elas acabam soando tão desinteressantes que ajudam para essa sensação de que as coisas não estão avançando e que, mesmo as ideias postas, estamos andando em círculos pleonásticos.


E então chegamos em São Paulo, onde o filme dá uma virada e os objetivos mudam. A liberdade de Violeta é mais uma vez vendida e os prédios de São Paulo parecem cada vez mais sufocantes. Entretanto, Carri busca, a partir daqui, enveredar-se pelo surrealismo das suas imagens poéticas e, numa ânsia subtextual que convida à interpretação de suas imagens, o filme procura um escopo que vai além da sua própria busca por liberdade. Liberta-se tanto que transforma seu assunto principal e o filme vira outra coisa. Imagens surrealistas que evocam uma discussão pertinente e conseguem ser poderosas mas que, a essa altura, soam pretensiosas e, principalmente, desinteressantes. É como se, em seu trajeto final, o filme tentasse abraçar muitas coisas e no fim, deixasse a si mesmo escapar de suas mãos. Tão livre para ser que esquece de ser o que era e opta por buscar poesia barata em imagens surreais.


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