
De Sidney Lumet a Sam Raimi, passando principalmente pelo clássico dirigido por Victor Fleming, é inegável que Oz é um dos mundos fantásticos mais lembrados e aclamados na história do cinema. Dito isto, Jon M. Chu tinha uma tarefa em mãos: não apenas adaptar mais uma vez esse universo muito reconhecido — principalmente através do visual —, mas produzir um filme-evento baseado num musical da Broadway dos mais reconhecidos, Wicked. Oz é um mundo grandiosamente fantástico e carnavalesco, mas Jon M. Chu conclui uma obra pálida, burocrática e que acredita ser suficiente dentro de sua ausente profundidade.
É interessante observar uma ponte entre a palidez da imagem e a temática rasa a ser apresentada: há uma crença por parte do próprio filme de que o que está sendo mostrado, em sua primeira camada, basta. Ou seja: se é um filme fantástico a ser apresentado, bastam os visuais digitais e alguns elementos de fantasia serem exibidos, sem nunca realmente tentar ser impressionante. A maneira de Jon M. Chu de filmar — planos e contraplanos simples, posicionando seus personagens no centro da imagem, sem dar qualquer profundidade de plano para o mundo que deveria ser vivo — elimina qualquer tentativa de trazer algo mais rico para um universo que já parece morto. Acontece que além das más escolhas de enquadramento há uma decisão questionável em deixar todos os visuais lavados, quase clínicos. Em determinada cena, um vestido rosa e um chão dourado parecem ter o mesmo tom bege. O mundo mágico apresentado no início é esvaziado cena a cena através de decisões não imaginativas por parte do seu diretor.

A ausência de criatividade fica ainda mais perceptível nas suas sequências musicais. Se há músicas boas aqui (destaco Defying Gravity), há uma forma de enquadrá-las muito mais preocupada com o que a música diz e menos com o que as coreografias e a imagem querem mostrar. Não há uma interação com o cenário até em canções que deveriam ter – como é o caso na cena da biblioteca –, e a falta da profundidade de campo, até mesmo quando há muita coisa acontecendo, dificulta as outras coisas de serem vistas.
Nessa forma própria de borrar os lados e não permitir que a imagem se aprofunde, o mesmo pode ser dito da narrativa. Há coisas boas aqui, pinceladas de uma trama e subtextos que poderiam ser interessantes, se não fossem apenas apresentados e nunca desenvolvidos. A relação da protagonista Elbapha (Cynthia Erivo) com o mundo, por exemplo, é tratada apenas como uma questão racial: sua pele verde e a maneira como é tratado com asco por uns e pena por outros, faz gerar um certo afastamento das pessoas por ela ser diferente. Dessa maneira, a personagem aprendeu a ser mais dura e encarar a vida com maior cinismo e menos inocência. É um contraste interessante, principalmente quando é colocada em conflito com a personagem de Ariana Grande, mas é um conflito simplificado e que nunca alcança estágios de profundidade que poderia chegar. Há também um aceno para um subtexto sobre o fascimo no universo de Oz, mas que serve apenas para gerar um clímax, e nunca é concluído satisfatoriamente. Esses conflitos são comumente deixados de lado para uma trama que nem sempre caminha com as próprias pernas, mas que permanece estagnada por um longo tempo.

Digo estagnada porque até mesmo o conflito e mistério principal — os animais estão perdendo a voz no mundo — nunca parece ser relevante porque só surge tarde na narrativa e só é relembrado esporadicamente. Enquanto isso, as demais tramas e subtramas parecem andar a passos de tartaruga. Até mesmo a relação de Elbapha com Glinda (Ariana Grande) estagna-se para, lá na metade do filme, dar uma virada completa e estranhamente repentina.
Oz é rica, vistosa e colorida. É uma pena que Wicked seja tão superficial em suas cores, em sua imagem e em sua trama. É inegável que alguns departamentos tentaram fazer alguma coisa: os figurinos e os cenários, quando não digitais, são visualmente interessantes e contam sua própria história, mas Jon M. Chu não está interessado neles. Ele despreza a imagem formal, a base do cinema, por acreditar que o que ele diz é o suficiente. O contar torna-se mais importante que o ver. E a fantasia torna-se cada vez mais burocrática e insossa.
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