
Eu Sei Que Vou te Amar é filme um histérico e intenso. Jabor dirige os jovens Fernanda Torres e Thales Pan Chacon de uma maneira teatralíssima. Um filme construído em diversas conversas que viram monólogos de seus personagens em uma histeria generalizada. Devido ao reencontro de uma antiga paixão, os personagens falam entre si mas também falam para si. Pouco interessa a narrativa nesse filme, mas sim a histeria desse ex-casal.
A histeria, de fato, é o eixo central do filme. A personagem de Fernanda Torres (que lhe conquistou o Prêmio de Melhor Atriz em Cannes) é moldada por uma tensão constante entre desejo e loucura, uma interpretação que reflete o conflito interno e emocional dessa mulher. Além disso, a relação entre os protagonistas se desenrola como uma montanha-russa de emoções intensas, onde amar demais e odiar demais coexistem de forma visceral. Seus diálogos completamente fragmentados também são algo marcante, com monólogos internos mascarados de interação e repetição obsessiva de frases. São reflexões de um ciclo de atos falhos e memórias recorrentes, aprisionando os personagens em um passado inacabado.

Esses comportamentos histéricos centralizam a paixão perdida entre o casal, transformando-se em um luto contínuo que alimenta a busca incessante de revivê-la. Esse processo revela a dificuldade de "matar o amor para sobreviver a ele", um paradoxo entre o desejo de profanar o outro e a incapacidade de fazê-lo. Assim, os personagens oscilam entre a adoração e a rejeição, presos na linha tênue entre o amor obsessivo e sua morte.
Para dar conta dessas neuroses que engolem os personagens, o cenário do filme atua como seu espelho. A cama no meio do verde funciona como uma metáfora visual dos estados emocionais: um espaço isolado onde as tensões e os conflitos se intensificam. Essa escolha cênica sublinha a ideia de que o cenário externo só existe dentro do 'eu', reforçando que o mundo ao redor é uma projeção das inquietações e vulnerabilidades dos personagens.
Eu Sei Que Vou te Amar é como um poema visual construído cena a cena, como se folheássemos as páginas de um livro de teatro. A alternância constante entre atração e repulsa, amor e ódio, cria uma estrutura quase cíclica, onde os personagens se movem entre picos de conexão e abismos de separação. Algumas, ecoam como versos que encapsulam o desamparo existencial que permeia toda a obra. Ao final, se apresenta como um estudo da condição humana, explorando a neurose, a paixão obsessiva e o desejo inatingível. Essa jornada culmina na ideia de ser vítima de uma "doença extraterrestre", onde o amor é visto como uma gosma que une e destrói simultaneamente. O desamparo emerge, então, como uma parte essencial da experiência de viver e amar.
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