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"Arcane", o melhor de League of Legends

Foto do escritor: Pedro AntonioPedro Antonio
Foto: Divulgação/ Netflix
Foto: Divulgação/ Netflix

Há pelo menos uma década o jogo online League of Legends (LOL) é um verdadeiro fenômeno de popularidade. Lançado em 2009, ele conquistou uma base de fãs imensa, inicialmente por seu universo e personagens atraentes, mas manteve-se relevante por oferecer aos jogadores mais do que apenas algumas horas em partidas. A cada atualização e personagem incluído, a desenvolvedora Riot faz do anúncio um verdadeiro evento, sem contar os campeonatos, com suas cerimônias grandiosas e shows ao vivo com transmissão simultânea – o que garante que LOL continue sendo um dos mais jogados do mundo, mas também gere impacto cultural significativo e crie uma conexão cava vez maior com os usuários.


Como fruto disso, a série animada Arcane representa a aposta mais ousada da empresa nesse sentido, e também seu maior triunfo. Anunciada ainda em 2019, na celebração de 10 anos do jogo, a primeira temporada foi lançada pela Netflix em 2021, e sua continuação apenas três anos depois, concluindo a série com 18 episódios no total. A Riot já havia desenvolvido curta-metragens animados de League of Legends, criados para promover novidades do jogo e ilustrar músicas da trilha sonora, mas pela primeira vez os personagens e elementos estabelecidos da franquia fariam parte de uma narrativa contínua. A tarefa de adaptar o vasto universo ficou a cargo dos criadores Christian Linke e Alex Yee.


Além de tudo, a série parte de elementos já estabelecidos do jogo para contar sua história, mas adapta o cânone pré-existente com a devida parcimônia, já que são mais de 100 personagens disponíveis para jogar. A decisão acertada foi de manter o foco nas irmãs Vi (Hailee Steinfeld) e Powder, posteriormente conhecida como Jinx (Ella Purnell). As duas têm suas trajetórias marcadas desde cedo por uma guerra civil entre os habitantes da decadente Zaun e da privilegiada e opressora Piltover. Um conflito que só tende a se identificar quando os amigos Jayce (Kevin Alejandro) e Viktor (Harry Lloyd) desenvolvem uma tecnologia tão promissora quanto perigosa.

Foto: Divulgação/ Netflix
Foto: Divulgação/ Netflix

Os fãs de longa data vão reconhecer outros rostos, como Ekko e Heimerdinger, o que faz com que os personagens já comecem a trama com algum nível de empatia dessa parte do público. Para os não iniciados, porém, também não demora muito para que se crie o mesmo nível de envolvimento com eles. Isso porque, mais do que tê-los povoando o ambiente como um fan service, há uma preocupação em desenvolvê-los e oferecer camadas em suas personalidades. Mais que um conflito em que há um lado bom e um ruim, em Arcane, os métodos podem fazer de qualquer um herói ou vilão a qualquer momento, por mais que a sua luta seja justa. Isso torna cada episódio uma virada empolgante e inesperada, mas sempre compreensível.


Mesmo personagens que deveriam integrar o mesmo lado enfrentam situações em que os seus objetivos, que deveriam convergir, geram um conflito – como no caso de Jayce e Heimerdinger enquanto membros do mesmo conselho. Jayce, com a ansiedade da juventude, apreensivo para usar a sua tecnologia para resolver os problemas que tanto assolam a sociedade ao seu redor. Heimerdinger vê o lado da segurança, considerando a instabilidade que a Hextech ainda apresenta, ao mesmo tempo que é incapaz de empatizar com o imediatismo dos seus colegas por usufruir de uma longevidade muito maior que eles. Em casos assim, não incomuns à série, resta torcer por uma resolução conciliadora, que muitas vezes não virá.


Para a produção, a Riot Games retoma a parceria com o estúdio de animação francês Fortiche, anteriormente responsável pelos curta-metragens e videoclipes de League of Legends. O trabalho do estúdio aqui, porém, consegue surpreender até os fãs mais assíduos das empreitadas anteriores, tamanho o apuro gráfico empreendido na obra. Numa época em que algumas animações televisivas parecem carecer de investimento e criatividade visual, como Invencível, outra animação para adultos, Arcane se destaca por apresentar um capricho comparável apenas a produções cinematográficas como ambos os filmes Aranhaverso. Não à toa a primeira temporada levou seis anos em desenvolvimento, e a segunda mais três, totalizando quase uma década de trabalho, que fez do produto final o mais belo possível.

Foto: Divulgação/ Netflix
Foto: Divulgação/ Netflix

Apesar de usar primariamente uma técnica 3D, os animadores não mostram reservas em testar outras técnicas, mesmo que apenas por uma cena. Há momentos de flashback que dão conta da relação entre um grupo de personagens onde o 3D e sua fluidez dão lugar a frames quase estáticos pintados a aquarela, mais suaves e delicados que o caos do presente, como costumam ser as memórias. Nos embates, o tempo pode parar e acelerar a bel-prazer do realizador, dando uma dinâmica única a cada cena de luta. Cada episódio é uma surpresa criativa, seja com o uso inesperado de animação tradicional, ou com cenas que diminuem a taxa de quadros por segundo para enfatizar a preciosidade de um momento. Por toda sua duração, Arcane se mostra imprevisível.


Nada simboliza melhor essa imprevisibilidade do que a Jinx, destaque absoluto da série. A versão adulta da pequena Powder (que foi apelidada de Jinx por ter a fama de dar azar aos seus companheiros) é uma bomba-relógio, e suas explosões provocam as principais viradas da trama. A confusão mental que a jovem enfrenta desde a infância, que a coloca num caminho destrutivo, é traduzida em seu visual caótico e principalmente na forma como seus movimentos são animados. Ela está sempre rodeando os espaços, com tamanha fluidez que é como se o seu peso nunca estivesse completamente sobre o chão. É impossível prever mesmo onde seu pé cairá após iniciar um passo, quem dirá sua próxima decisão. Isso dá às cenas dramáticas da personagem ainda mais força, quando ela se abate é como se finalmente a gravidade exercesse total efeito sobre ela.


Com toda sua excelência, Arcane teve uma vida curta, seja por escolha criativa ou imposição da distribuidora. Sem uma perspectiva imediata de novos projetos em audiovisual para essa propriedade, o que resta é nos contentarmos com as duas levas de episódios disponíveis na plataforma que, numa era na qual tudo é apressado, levaram seu tempo para serem refinadas e entregues da melhor forma possível. Por isso, também não vale a pressa para assistir. Com tanta informação e beleza em tela, é saudável parar um pouco e permitir-se usufruir em intervalos. Se esses episódios são tudo que teremos, ao menos por enquanto, não há por que correr para assistir (e rever) esta série que o melhor que League of Legends tem para oferecer.

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